Fantasmas exorcizados em noite de Lua cheia


No último acto de um jogo dominado pelos anfitriões, sentenciados, até aos 90 minutos, a lamentar-se da hegemonia não transformada em vantagem no marcador, o 1º de Agosto evitou ontem, de forma épica, a frustração do sonho africano, alicerçado na presença nos quartos-de-final da Liga dos Clubes Campeões.

Com o apontamento de irretocável da “nota artística” de Geraldo, lançado do banco de suplentes para desbloquear um cenário muito complicado, e a cabeçada triunfal de Bobó, sublinhada na tribuna de honra do Estádio Nacional 11 de Novembro, pelo abraço fraterno trocado entre a ministra da Juventude e Desportos, Ana Paula do Sacramento Neto, e o presidente de direcção do clube militar do Rio Seco, Carlos Hendrick da Silva, a equipa às ordens do sérvio Zoran Macki escreveu certo, por linhas tortas, ao assinar o triunfo por 2-1, quando tudo já apontava para a derrota em casa.
E caso fossem vergados aos olhos dos seus adeptos, ainda poucos para um recinto majestoso, os bi-campeões nacionais seriam merecedores de todos os elogios, porque a abordagem definida para a conquista da primeira vitória, no Grupo D da prova, foi ao encontro do desempenho da equipa, aprovada com distinção no trio de finais disputadas diante do Zesco United e Petro de Luanda.
Criticado em grande parte do ano, pelas exibições descoloridas e resultados aquém da força do plantel, Zoran Macki, auxiliado por Ivo Traça e Filipe Nzanza, merece ser elogiado, dada a ousadia de jogar aberto, com o sentido das acções ofensivas virado à baliza à guarda de Jacob Banda, o “capitão” dos zambianos.
Sem enveredar por triunfos morais, o 1º de Agosto acabou vencedor, ao continuar a lutar diante da adversidade, após o golo de Lazarous Kambole, aos 70 minutos, ter pintado um quadro de total injustiça no marcador, seguindo a lógica dominante do futebol. Contas às bolas introduzidas na baliza, quando as tentativas servem apenas para enfeitar as estatísticas.
Pelos pés e cabeça de Razaq passaram várias oportunidades de golo dos militares, agora guindados ao segundo lugar do grupo, com todo o merecimento, pela evolução futebolística nos últimos dez dias. E ainda tiveram, aos 66 minutos, motivos para reclamar uma grande penalidade não sancionada por Bernard Camille, ao julgar normal a carga sobre Razaq, dentro da área. 

Exemplo estóico 
A postura do 1º  de Agosto, por não cruzar os braços mesmo quando o relógio do árbitro apontava a uma espécie de fatalidade em casa, pode ser encarada como mudança paradigmática, porque o normal é ver as equipas angolanas, clubes e selecções, aceitar a derrota tão logo se apanham em desvantagem no marcador.
O onze base formado por Tony Cabaça, Paizo, DanyMassunguna (capitão), Bobó e Paizo, Show, Mário, Ibukun e Mongo, Jacques e Razaq, o mesmo utilizado diante do Petro, esteve à altura das exigências. As entradas de Geraldo, Buá e Guelor deram o equilíbrio de que carecia a equipa, num período de menor discernimento nas acções ofensivas. A estratégia montada por George Lwandamina, de “um olho no peixe e outro no gato”, a justificar o recuo no terreno dos avançados Jesse Were e John Ching'andu, rendeu até ao momento do reconhecimento do estoicismo dos militares, felizes numa noite de Lua especial, um fenómeno astrológico milenar.
O triunfo permite abordar com grande optimismo, a viagem aos domínios do Etoile du Sahel, comandante isolado à entrada da ronda, com sete pontos, mais três em relação ao Mbabane Swallows, do Reino de eSwatini, adversário do embaixador angolano no encerramento da fase de grupos. A conquista dos três pontos pode carimbar a passagem. 

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