Doença rara mata jornalista angolano


O jornalista da Rádio Ecclésia e professor do curso de Comunicação Social no IMEL, Bernardo da Silva Ventura, faleceu ontem, numa unidade hospitalar em Lisboa, Portugal, vítima de Esclerose Lateral Amiotrófica.

Bernardo Ventura padecia desta doença desde finais de 2016,  mas só lhe foi diagnosticada em Fevereiro do ano passado, em Lisboa.
A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença neuro-degenerativa fatal de causa desconhecida que acomete os neurónios motores, responsáveis pelos movimentos voluntários.

É caracterizada pela perda progressiva da força muscular, que afecta os movimentos, a fala e a deglutição, causando paralisia. Trata-se de uma doença rara, que atinge cerca de 0,002% da população mundial, e faz parte de um grupo de enfermidade chamada doença do neurónio motor.

O diagnóstico da doença, até então desconhecida, foi dado a conhecer a 23 de Fevereiro do ano em curso, no Hospital de Vila Franca de Xira, Portugal, onde chegou à procura de resposta, disse na altura numa entrevista publicada no Jornal Luanda Metropolitano, publicada a 25 de Dezembro de 2017.

Na entrevista, Bernardo Ventura contou que levou quase um ano a andar pelos corredores de hospitais públicos e clínicas privadas de Luanda, que nunca souberam dizer-lhe de que realmente padecia. Todos os exames realizados então deram negativo. 
“Andei em consultas nos hospitais Josina Machel, Militar, Sanatório, Centro Nacional de Oncologia e me submeti à medicina tradicional chinesa. Fiz vários exames, mas, infelizmente, nenhum diagnosticou a minha doença”.
A família recorreu a um médico neurologista cubano, que o consultou no Hospital Militar, em Luanda. 
Segundo depoimentos, este especialista “foi o único que, na altura em que andávamos de hospital em hospital, suspeitou da existência da doença, mas disse que o seu diagnóstico seria impossível no país, por ser uma patologia desconhecida, e aconselhou a recorrermos ao exterior”, recordou Elisa Ventura, a esposa, também  na mesma entrevista. 
No dia 5 de Fevereiro deste ano, na companhia da esposa, Bernardo Ventura viajou para Portugal e, no dia seguinte, os médicos deram-lhe a resposta que tanto procurava. 

Marcas da doença
Receber esse diagnóstico foi como uma sentença de morte. A doença evolui de uma forma tão drástica, que a pessoa, paulatinamente, perde a fala, fica impossibilitada de andar, de suportar a cabeça e, depois, uma paralisia total. 
Com o corpo paralisado, os olhos tornam-se os únicos meios para comunicar com quem está à volta, na medida em que é através deles que o doente tenta expressar o que lhe vai na mente. 
Para se ter uma ideia da gravidade da situação, a doença que afectou o malogrado jornalista angolano é a mesma de que padeceu o já falecido Stephen Hawking, 75 anos, famoso cientista britâni-
co que, desde os 21, convivia com a enfermidade. Bernardo Ventura tinha perdido a fala, o movimento dos braços e pernas, assim como o resto da musculatura. Ficou sem forças para manter a cabeça erguida, de modo que a sua mobilidade era praticamente nula. 

Instado na altura da entrevista a explicar os sintomas, Bernardo Ventura disse que começou por perder forças no dedo indicador direito. Foi tudo muito rápido. Depois, não conseguia juntar os dedos da mão direita. Algum tempo mais tarde, teve dificuldades na fala e para mover o braço. 

Como jornalista, Bernardo Ventura trabalhou para o jornal  “O País”, rádios Despertar e  Ecclésia e Sítio de informação “A Tribuna”. 
Aos 39 anos, fez parte do primeiro curso de Comunicação Social da então Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto e leccionou jornalismo no CEFOJOR (Centro de Formação de Jornalistas).
No IMEL, foi professor de Designer e Comunicaçao Visual e de Teorias de Comunicação. O jornalista do Jornal de Angola Augusto Cuteta lembrou Bernardo Ventura como sinónimo de alegria permanente.

Paulo Matias, jornalista da RNA e ex-aluno de Bernardo Ventura, afirmou que Ventura, além de professor, era um pai para os alunos e sempre se solidarizou com as dificuldades dos seus discentes.

“Na Rádio Ecclésia, ele soube colocar ao serviço da comunidade um jornalismo religioso de qualidade”, disse Augusto Cuteta, concluindo que o jornalismo e o ensino em Angola perdem um grande profissional e um ilustre cidadão.

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