A imagem actual do Estádio Nacional da Tundavala, erguido numa área de 25.807 metros quadrados, no bairro Chioco, arredores da cidade do Lubango, província da Huíla, é de num “matagal” com capim alto no lugar da relva moderna que chegou a pintar de verde celestial o rectângulo de jogo.
Construído a propósito da realização da Taça de África das Nações (CAN), que o país albergou em Janeiro de 2010, o maior recinto desportivo da Região Sul oferece a quem o visita um cenário desolador. Arbustos e flores com mais de um metro, dada a situação de abandono, numa zona arável.A imagem negativa da Tundavala começa logo na parte exterior. A lápide cha-ma a atenção de quem chega. Mas o capim que cobre os equipamentos de sinalização, a indicar as áreas de estacionamento e acesso da impren-sa, espectadores, funcionários da FIFA, bem como da zona de entrada de jogadores e árbitros, dá vida à má imagem que substitui o lindo postal outrora oferecido pelo estádio, cuja construção foi inspirada na famosa fenda com mesmo nome.
A destruição das placas informáticas, os pneus dispersos ao longo do parque de estacionamento, por abandono dos organizadores das corridas de karting, é outra fotografia desfocada predominante no recinto. E naquela manhã cinzenta de segunda-feira, no Lubango, não foi di-ferente. Bem à entrada do perímetro de vedação do estádio, os repórteres do Jornal de Angola viram-se confrontados com a inusitada comissão de boas-vindas, anunciada pelo latido de uma matilha de cães. Pânico!
Mais calmos, puderam ver que se tratava de um agregado de cães rafeiros vadios, oriundos dos bairros periféricos. O elemento da segurança policial em serviço, ouvido sob anonimato, explicou que os animais se abrigam no local, por ser uma zona livre. No caso, terra de ninguém, face à situação de abandono.
Fez questão de destacar a existência no interior do estádio, sobretudo nos túneis e zonas cobertas de capim, de ratazanas, coelhos e outros animais. Apesar de vadios, defende o segurança, a presença dos cães é benéfica para o pessoal da guarda em serviço, “porque sempre que ladram, na calada da noite, denunciam a presença de ladrões ou pessoas estranhas”.
A iluminação deficitária é outro grande empecilho para os seguranças. A parte exterior das escadas 1 e 2, Zona B de acesso ao estádio, é iluminada pelos candeeiros do projecto de Reconstrução Nacional da Casa Civil do Presidente da República. “Acho importante in-cluir no estádio a guarnição canina”, defendeu.
Com capacidade para acolher 21.060 pessoas sentadas, o Estádio Nacional da Tundavala comporta ainda três arquibancadas cobertas por uma estrutura metálica. Tem uma bancada central, com 843 lugares, tribuna para imprensa, 119 lugares, e 108 assentos na zona destinada a pessoas com deficiência.
A bancada do primeiro andar tem 9.657 lugares. No mesmo piso estão instalados nove camarotes que perfazem 484 lugares, enquanto a bancada superior tem 9.006 lugares. Possui igualmente quatro balneários, sala de conferências, sala para jornalistas, sete postos de saúde, áreas VIP, uma unidade de Polícia, 14 lojas e um restaurante de grande dimensão e similares. Era servido por um grupo gerador de corrente eléctrica, com a capacidade de 3.4 megawatts.
As obras do estádio consumiram 29 mil metros cúbicos de betão tradicional, mais de 1.700 toneladas de pedra e 5 mil toneladas de aço. Tem um parque de estacionamento para 2 mil viaturas e custou aos cofres do Estado 69 milhões de dólares.
Durante 18 meses, as obras estiveram a cargo da empresa de construção civil chinesa SINOHIDRO Corporation, que envolveu na empreitada 750 trabalhadores chineses e 300 angolanos, nas mais diversas áreas. A fiscalização coube à angolana Nuclear.
A Tundavala albergou durante o CAN 2010, realizado nas cidades do Lubango, Benguela, Cabinda e Luanda, as selecções nacionais que integraram o Grupo D, designadamente Camarões, Zâmbia, Tunísia e Gabão. Na ocasião, recebeu rasgados elogios do avançado camaronês Samuel Eto’o, grande referência do futebol mundial.
Foi inaugurado pelo antigo primeiro-ministro, António Paulo Kassoma, numa cerimónia testemunhada pelo então ministro das Obras Públicas, Higino Carneiro, o actual dos Transportes, Augusto Tomás, e o governador da província, à época, Isaac Maria dos Anjos.
O director provincial do Ministério da Juventude e Desportos na Huíla, Joaquim Tyova, reconheceu que o estado actual do estádio é preocupante, por estar paralisado há mais de três anos, situação que influencia e acelera cada vez mais a degradação dos seus principais serviços, nomeadamente a tubagem que é de PVC, que pode estar ressequida, bem como alguns equipamentos em ferro, sujeitos à acção da ferrugem.
“Temos outros sistemas eléctricos, como os elevadores, que infelizmente estão inoperantes por causa da paralisação. É um conjunto de serviços que estamos a perder. Significa que, se não houver uma intervenção urgente, a recuperação do estádio pode custar muito mais caro do que se imagina, porque agora não se trata só do relvado, mas de outros equipamentos que lá estão que já foram utilizados mas depois ficaram paralisados”, explicou.
Joaquim Tyova informou que a primeira preocupação que se tem é a de encontrar mecanismos financeiros para reparar o sistema eléctrico, que tem influência no supor-te do sistema de bombagem de água. “Basta isso. Acreditamos que o relvado pode ser aplicado com normalidade e de forma sustentável”, disse confiante.
Em função das preocupações e do levantamento feito, “recorremos a várias empresas. Uma das facturas que nos apareceu ser mais real é a da OMATAPALO, que faz referência a 250 a 290 milhões de kwanzas, para a manutenção”, avançou, para acrescentar que outras empresas falaram em 54 milhões de kwanzas, “só para a colocação do relvado, sendo que outros orçamentos rondam os 100 milhões de kwanzas.” Por enquanto, ficam a aguardar que o Ministério consiga encontrar dinheiro junto das instâncias superiores, para se arrancar com a reabilitação do gigante adormecido.
“Não temos como cortar o capim que está no estádio, porque a maquinaria está toda avariada. Além disso, também não há verbas suficientes para custear os combustíveis e lubrificantes para os tractores que lá estão. Se olharmos hoje para o estádio, está numa situação preocupante. Queríamos ver se junto do Governo pudéssemos encontrar mecanismos para solucionar as avarias”, lamentou.
Segundo o representante do Minjud na província, já foram feitas várias parcerias público-privadas, “mas, in-felizmente, a relação custo/-benefício, faz muita gente recuar”. Muitas pessoas re-cuam porque os custos são maiores que os benefícios. “Estamos a falar só em dois milhões de kwanzas para o tratamento do relvado, du-rante um mês, o que não é possível. Nem com o arrendamento do recinto a em-presa lucra próximo disso ou um pouco mais. A nossa esperança é que haja mesmo dinheiro do OGE”.
Gerador foi levado do Estádio
O director provincial da Juventude e Desportos, esclareceu que, quanto ao desaparecimento do gerador, o ideal seria repor a mesma capacidade de 250 kvas, que é necessário para se ter um sistema normal de bombagem, caso não haja energia da rede pública.
“É necessário que haja um novo gerador e um sistema de protecção e segurança eficiente. Está lá a Polícia Nacional. Tudo bem. Mas foi mesmo com a presença da Polícia Nacional que esses meios desapareceram. Acho que a outra alternativa também seria um serviço de segurança privada”, destacou.
Questionado sobre o processo de investigação do destino dado ao gerador, Tyova adiantou que têm estado a dialogar com o Comando Provincial da Polícia Nacional na Huíla, “que nos pede calma porque se está a trabalhar no assunto. Tão logo haja algum sinal, haverá mais pormenores”. Por ocasião da visita da ministra da Juventude e Desportos, Ana Paula do Sacramento Neto, viu-se que há uma perspectiva de esperança, porque o Orçamento Geral do Estado (OGE) de 2018 tem previsão de valores para a manutenção do estádio. “Já foi muito bom, o que significa que o Ministério ouviu o clamor do povo da Huíla. Vamos esperar que haja dinheiro para se promover a recuperação do estádio.”
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